Todos passamos por momentos difíceis, por acontecimentos complicados de encarar e de entender. Uma dessas realidades expressa-se quando nos deparamos com a morte de alguém querido. Apesar de sabermos que a morte é o destino de todos incomoda e quando se apresenta no nosso pequeno mundo devora o optimismo da vida com dúvidas que nos dilaceram e com inquietações vertiginosas. A morte cala, silencia. Essa ausência é a mais ruidosa de todas. Quando perdemos alguém, cria-se uma névoa profunda que transporta esse abismo de ausência para uma irrealidade. Contudo, cada vez que nos aproximamos para confirmar, somos sugados para a realidade e caímos novamente, cada vez mais fundo. É difícil pôr um ponto final numa história que constitui uma vida de alguém, impossível. O nosso dever é sempre mudar de parágrafo e continuar a escrever, impedindo o seu fim. Relembrar e conservar.
O Fédon de Platão ensina-nos que a morte não é mais do que a separação da alma do corpo. Assim, partindo da sua teoria das ideias que delimita dois mundos, um sensível e um inteligível, sendo o primeiro um reflexo plural da singularidade do último, chega à evidência de que o filosofar é um “treino de morrer e de estar morto”. A alma separada do corpo poderia conhecer todas as Ideias puras, únicas, imutáveis e autónomas do mundo inteligível sem a mediação do corpo que, devido à sua natureza, a filtra de forma errónea e sensorial. Uma vez livre, o espírito alcançaria as ideias, logo o filósofo deve alegrar-se perante a sua morte, concretizando a sua própria essência. Contudo, será o homem apenas um ser gnoseológico? Mais: tal é a única característica do filósofo? Não estarão também as esferas emotiva, social e ética na algibeira? Nenhum homem é uma ilha. (Só se poder-mos incluir o super-homem. Mas que tem ele de humano?)
As diversas religiões tentam dar respostas que amparem a incerteza e a dúvida. As opiniões dividem-se, entre outras, entre um bilhete para o paraíso e uma nova viagem através da reencarnação. Tudo depende da fé, da crença. Se não acreditamos em nada disto, ficamos à deriva, num eterno desassossego sobre o destino das almas daqueles que nos abandonaram. Sinceramente, aquilo que mais me acalma é o pensamento de Leibniz quando afirma que aquilo que poderá acontecer não é uma metempsicose, mas mais uma metamorfose. Escolho crer que todos nós fazemos parte de uma coesa monadologia, numa teia de ligações recíprocas, que se tocam a cada instante. O milagre é de origem humana, da força anímica que nos une a todos. Isto é uma ironia nos tempos que correm, mas a ilusão também pode ter os seus benefícios, entre eles, manter a fé no Homem.
Como disse Epicuro: “A morte não é nada para nós”. Uma vez vindo, não a sentimos. Resta-nos acalmar os espíritos e continuar o legado daqueles que partiram. Nos nossos sonhos nunca faltará um lugar à mesa. No nosso mundo, o telefone continuará sempre a tocar e do outro lado estará a voz que queremos ouvir. Não são as fotografias que recordam, essas apenas ajudam o olhar. Somos nós que vivemos por aqueles que nos deixaram. Mas não se deixaram a si próprios, não o podemos permitir. Uma boa gargalhada é o melhor remédio, mesmo que acompanhada por lágrimas. Cheira sempre a presença."Pum, pum, pum"
3 comentários:
Esta música é o máximo, Opeth sempre a bombar!!!!Eh pá, aínda a outra me chamou epicurista, não podia estar mais perto da verdade!AHAHAHAHHAHAA.Burn the system!!!!
Parabéns pelo post. Só lamento não perceber o suficiente de Filosofia para compreender o texto na plenitude.
já liiiii.... Nenhum homem é uma ilha? ;-p E o fim "pum" lembra-me o Dantas!
Eu resolvo-te o problema existencial com a ajuda do Leibniz e do meu amigo JC...
Ah! E eu não acho que ficam apenas fotos. Depois da dor não vem uma verdadeira esperança que, como dizias, nos faz sorrir? É só decidirmos qual é prato da balança que queremos que pese mais...
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