Antes de começar a falar sobre o estado social actual da sociedade portuguesa, é importante relembrar que o conceito de Pobreza é mais complexo e multidimensional do que se pode imaginar e que infelizmente, parece que os nossos políticos ainda não compreenderam a sua verdadeira dimensão. Prova disso é o facto de, segundo dados da Comissão Europeia relativos a 2007, Portugal ter 1,8 milhões de pobres (18% da população total) isto é, indivíduos que vivem abaixo do limiar da pobreza, auferindo salários mensais entre os 360 e os 366 euros. Na UE a 15 estados-membros (antes do seu alargamento a Leste em 2004), Portugal é o país mais pobre e onde as desigualdades sociais são maiores e na UE a 27 estados, só as populações da Hungria, Polónia e Eslováquia é que são mais pobres do que nós, vivendo com menos de 200 euros por mês.
De destacar que, em países como a Dinamarca, a República da Irlanda, o Luxemburgo, a Finlândia e o Reino Unido, o limiar da pobreza é o mais alto de toda a União Europeia ou seja, as suas respectivas populações só são consideradas pobres se auferirem menos de 900 euros por mês. È obra!
Voltando novamente ao caso português, é importante realçar que a pobreza existente no nosso território advém fundamentalmente de políticas socialmente injustas que geram o aumento das desigualdades sociais (estou a falar por exemplo, do aumento do preço dos bens de 1ª necessidade; do agravamento dos custos em serviços fundamentais para a vida das pessoas, com a Saúde, Educação, Justiça,..) e simultaneamente do baixíssimo nível de produtividade do trabalho existente na nossa economia que por isso mesmo, não consegue gerar acréscimos de riqueza para o país e posteriormente aumentos remuneratórios significativos para a nossa população.
Actualmente, Portugal continua mergulhado numa profunda desigualdade social a nível da repartição dos rendimentos e esse facto constitui um importante obstáculo ao desenvolvimento do país e é também um factor que contribui para agravar a crise actual que enfrentamos. Infelizmente, a forma que se tem encontrado para tentar combater a pobreza em Portugal é investir-se em actividades económicas caracterizadas por baixas remunerações, precariedade e reduzida qualificação mas toda a gente compreende que essa medida não resolve o problema da pobreza, só adia a sua resolução, porque as pessoas que trabalham nessas actividades estão constantemente confrontadas com o cenário do desemprego, além de contribuir para o surgimento de “novos pobres”.
O modelo de desenvolvimento económico e social em Portugal tem que assentar em trabalho qualificado, com remunerações que se aproximem da média da UE e em segurança no emprego. E é evidente que esse modelo só será também possível com uma repartição muito mais justa da riqueza do que aquela que se verifica actualmente, pois essa repartição mais equitativa é condição indispensável para a existência de um mercado interno em crescimento continuado que é a base do desenvolvimento efectivo de qualquer país.