Porque a realidade do subúrbio não tem que ser necessariamente má!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O regresso


Lamento a minha ausência durante estas semanas. Embora tivesse vontade de escrever, a minha saúde não mo permitiu. Calma! Não fiquei com os braços e as mãos paralisadas, nada disso! Tive dias preenchidos por tormentosas dores na cabeça e nas costas, que me impediram de vislumbrar qualquer tipo de comicidade, exceptuando o humor negro. Pois, eu sei que parece esquisito passar tanto tempo inoperacional, mas foi exactamente o que aconteceu. A saga nunca acaba, mas por vezes têm de se ultrapassar certos obstáculos…

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já dizia o Camões. Mudam-se as vontades… Algumas. Outras ficam imutáveis. Por exemplo, a vontade que as pessoas têm de se despachar na fila do supermercado. Nunca conheci ninguém que gostasse de esperar e observar o ambiente em redor, enquanto as compras repousam placidamente no cesto ou no carrinho de compras. Certas velhinhas não sabem usar um cartão multibanco. Um dia vi uma que entregava o cartão ao neto, um menino de cerca de dez ou doze anos, para que ele levantasse dinheiro. A senhora dizia que não percebia nada daquilo e que o rapaz é que sabia fazer.

Gostava de conhecer uma criança sobredotada e que estivesse disposta a colaborar comigo. Seria no mínimo hilariante. Imagino uma criança de nove ou dez anos a ler os artigos científicos e a explicar-me as partes mais importantes.

—Então esse artigo diz alguma coisa de jeito? — perguntaria eu.
— Pouca coisa — responderia a criança. — Foi quando descobriram que as mutações ocorrem espontaneamente, antes do contacto com o agente selectivo. Uma bactéria resistente a um vírus já era resistente antes de estar na presença do vírus.
— Isso é porreiro! — exclamaria eu. — Mas agora parece um bocado óbvio.
— Claro. Mas nos anos quarenta ainda não era.
— Tens razão. Logo à noite queres jogar xadrez? — perguntaria eu.
— Tu ainda não jogas bem! — exclamaria a criança. — Tenho de te ensinar a jogar decentemente. As tuas jogadas são demasiado previsíveis. Tens de surpreender o adversário.
— É verdade. Tu já jogaste contra adversários poderosos?
— Algumas vezes. Da última vez foi com um russo. Queria combinar outra partida, mas ele anda muito atarefado — contaria a criança.
— Esse tipo fala bem inglês?
— Eu diria que ainda fala pior do que o nosso primeiro-ministro…
— A sério?!
— Sim. Se eu não tivesse aprendido o idioma dele, creio que não haveria possibilidade de agendar partidas de xadrez…
— Quando é que aprendeste?
— Há dois anos.

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