Os habitantes da zona Norte de Portugal gozam da fama de usarem uma quantidade acrescida de palavrões na sua linguagem corrente, relativamente aos habitantes de outras zonas. Poderíamos questionar-nos se de facto existe uma correspondência entre as opiniões gerais e a realidade. Porém, o estudo estatístico necessário para apurar a verdade seria dispendioso e de utilidade praticamente nula, e por isso não esforçarei ingloriamente a minha imaginação para tais fins.
Não me recordo se terá sido numa noite de insónia, num ano já distante, quando me ocorreu uma ideia para uma nova comemoração: o dia sem palavrões. Admito que só por si, parece um pouco despropositado. Haveria logo alguém a dizer “Ora grande coisa! Um dia sem asneiras.” Pois é. Então e se fosse criado um sistema de apostas, a dinheiro, a géneros ou a serviços, conforme o gosto de cada um, em que ao quebrar a sequência de diálogos sem palavrões, teria de se pagar a alguém que não o tivesse feito. Por exemplo, consideremos que o dia sem palavrões seria comemorado na primeira Quinta-feira de Fevereiro. “Como se fosse um feriado móvel?”. Exacto, nem só a Igreja tem ideias dessas… Noto também uma espantosa falta de celebrações nos dois primeiros meses de cada ano. Mais ninguém se interroga acerca disto? Nas semanas cinzentas e monótonas, nem um dia livre para desanuviar os ânimos…
Mas, continuando, nesse dia de Fevereiro poderia alguém lembrar-se de apostar o seguinte: o primeiro indivíduo que pronunciasse um palavrão teria de tomar um reconfortante duche de água fria! O duche teria de ser completa, e deixar de lavar a cabeça seria tido como batota. Assim, o perdedor iria provavelmente passar o resto do dia com as frases invertidas, ou seja, uma ou duas palavras inseridas no contexto de um extenso conjunto de palavrões. Para o vencedor, seria uma oportunidade de se rir um bocado.
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