Porque a realidade do subúrbio não tem que ser necessariamente má!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Peter Paul Rubens- O Senhor do Barroco


Hoje venho-vos aqui falar de um pintor que me fascina, quer pela diversidade e vastidão da obra, quer pelo que despoleta dentro de mim - uma profunda admiração pelo seu perfeccionismo e técnica.Em 2004 , quando estive em Munique, decidi ir visitar a Älte Pinakothek(museu de arte antiga)com o meu pai.Percorremos vários corredores repletos de maravilhas como Albrecht Dürer, Rembrandt,Leonardo Da Vinci mas o espanto atingiu-nos quando chegámos à primeira sala onde apareciam quadros do Rubens.Perdidos entre imagens de santos e demais figuras do imaginário sacro, lutas de animais ferozes, imagens de doces e cândidas figuras femininas, eu pensei para comigo-Tudo este homem pinta, e com que qualidade!O meu olhar estava vidrado,reparando nas roupas das mulheres, nos mais ínfimos detalhes, nos jogos de luz e movimento e nas expressões das figuras retratadas .Após reparar nestes pormenores, os meus olhos focalizaram-se nos quadros de lutas entre os animais,e e ntre os animais e os homens, as expressões ferozes, a noção de movimento, tão real, tão perfeita, tão bem conseguida... tudo me deleitava.O meu espanto foi interrompido por um comentário do meu pai " O Rubens obtinha as cores intensas de uma forma natural, por exemplo, o vermelho garrido era obtido através de sangue de porco", e eu pensei cá para mim-Este homem era mesmo muito à frente!.Após 4 anos, em Agosto do presente ano de 2008,tornei a ir a este museu e a deleitar-me como se fosse a primeira vez, com as obras deste grande pintor, mas nesta temporada com um olhar muito mais educado,e é dessas perspectivas que venho hoje aqui falar-vos.
Peter Paul Rubens,a figura mais importante do Barroco em todo o mundo,foi um pintor que levou uma vida muito singular.Ao contrário da maioria dos pintores, Rubens não precisava de trabalhar para ganhar dinheiro.Rico,arrogante, elitista, aristocrata e
coleccionador de arte, Rubens pintava pelo simples prazer de conceber coisas belas e por um grande amor à camisola,criando a sua própria academia de arte onde formou grandes pintores como Snyders e Van Dyck, cujas obras aprecio bastante.Homem diletante e viajado, Rubens caiu nas graças do Duque Italiano Vicenzo Gonzaga,passando a pertencer à corte de Mântua.Na sua estadia em Itália, Rubens aproveitou para "beber" da fonte do Renascimento,apreciando as obras de Rafael,Ticiano e Tintoretto, que viriam a servir de inspiração para o seu incrível legado artístico.Quando chegou a Antuérpia foi nomeado pintor da Corte dos Regentes Isabel e Alberto,acabando em 1609 por criar o seu próprio atelier, onde formava alunos e produzia quase "em massa" imensas obras que lhe encomendavam constantemente, nomedamente a série de 21 pinturas que fez para Maria de Médicis que se encontra hoje em dia exposta na íntegra no museu do Louvre em Paris.Contando com o apoio da Corte Holandesa e a admiração da Corte inglesa e espanhola que lhe atribuiram diversos galardões e apoios, Rubens viu a sua obra difundida e o seu estilo copiado por toda a Europa,sendo muitas das vezes adaptado à arquitectura e à escultura, contribuindo este fenómeno para torná-lo o artista mais requisitado pela Igreja para retratar cenários sacros.Para além de pintor, Rubens era igualmente um grande entendido e coleccionador de arte, tendo vendido a sua colecção de obras de Rafael, Tintoretto e até mesmo suas, por uma quantia astronómica ao Duque de Buckingham , após a morte da sua fidalga esposa, Isabella Brandt.Alguns anos mais tarde Rubens volta a casar, mas desta vez com uma jovem, Héléne Froment, que podemos ver frequentemente imortalizada na sua obra, sendo retratada como uma doce e cândida jovem de 16 anos.Rubens, após casar-se pela segunda vez ,começa a retirar-se gradualmente da vida artística, facto que se viria a consumar com a morte da Raínha Isabel da Holanda, acabando este por recolher-se no seu Castelo Seen perto de Mecheln,concebendo esporadicamente obras de arte, tendo como a sua grande última encomenda a decoração do pavilhão de caça do Rei de Espanha , em torre de la Parada, perto de Madrid.
Rubens Senhor de um estilo livre e adaptável às encomendas que lhe eram feitas, pintava praticamente tudo, desde retratos a arte sacra, passando por temas mitológicos, bucólicos,ou até mesmo por temas onde a natureza era retratada de forma mais agressiva e feroz(como podemos constatar no quadro que aqui vos mostro).Perante a versatilidade da obra deste Alemão nacionalizado Holandês,podemos no entanto,encontrar algumas presenças , quase constantes nos seus quadros, nomeadamente o movimento, que se traduz em composições inventivas com diagonais , pontos de fuga enérgicos, cores contrastantes, e figuras que se encontram em contorção total tanto física como emocionalmente.Também conseguimos encontrar manifestações de força, de vigor, nomeadamente através de figuras de deuses e santos retratados quase como superhomens e igualmente através das expressões ferozes de alguns animais e homens que frequentemente se debatem em lutas mortais.Nos quadros femininos e por incrível que pareça, Rubens tinha uma grande adoração por...SEIOS(o malandreco!),nunca perdendo uma oportunidade de retratá-los em quadros repletos de sensualidade,chegando até a fazê-lo, imagine-se, nas obras onde retrata as suas próprias mulheres!
Rubens foi o expoente máximo do Barroco, estando um pouco presente por vários museus da Europa,até mesmo em Lisboa,no centro de arte moderna José de Azeredo Perdigão, na fundação Calouste Gulbenkian, podendo aí vislumbrar-se, duas ou três obras pouco significativas deste grande pintor, sendo a nossa atenção naturalemente desviada para as belas e valiosas peças de joalharia de Lalique.

Quadros obrigatórios:"Sansão e Dalila", "Série da Vida de Maria de Médicis",O Jardim do Amor","O Julgamento de Paris","Vénus ao espelho", "A Cabeça de Medusa","Rubens e Isabella Brandt no caramanchão de Madressilva","Paisagem tempestuosa com Filémon e Baucis".

"O meu talento é tal, que nenhum desafio por maior ou mais diverso , jamais ficou aquém das minhas capacidades" Peter Paul Rubens.

Nota final: Este quadro que aqui vos mostro e que foi fotografado por mim "in loco" no museu Älte Pinakothek de Munique ,chama-se "Caça ao Hipopótamo e ao Crocodilo" e foi pintado por Rubens em 1615.

3 comentários:

Sara Lutas disse...

hey!
A espera compensou :)Gostei muito do post!
O meu quadro preferido continua a ser "a cabeça de medusa". Aquele olhar... (bem,também encontramos um perturbador em Santarém...lol)
Bjocas
Burn the system!

Arte de Débora disse...

Belíssimo artigo sobre Rubens!
Traz concerteza uma visão nova a quem já o conhece e apresenta-o de forma ampla e séria a quem ainda não o conhecia.
A vida do artista parece-me um elemento fundamental na compreensão plena e profunda da sua obra, por isso aprecio sempre uma boa história ligada a uma boa análise artística! E este artigo proporciona-nos isso. Excelente!
De entre as obras citadas, as que mais me encantam são "Sansão e Dalila", "O Jardim do Amor" e "Vénus ao Espelho".
Mas a minha preferida do Rubens é "Dança de Aldeões": uma maravilha!!! Esse transporta-me realmente para um "outro mundo", não me canso de o contemplar.

;-)

Cláudia Anjos Lopes disse...

Gostei muito do post! Conseguiste apresentar um pintor de forma descontraída e ao mesmo tempo bastante informativa. Andei a pesquisar e fiquei surpreendida com o quadro que retrata Vénus. O conceito de beleza mudou muito desde aquele tempo...